terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Ainda O MAR...

Proponho-vos, agora, um outro desafio... 
Criar uma prancha de BD a partir da leitura de um texto alusivo ao mar.
Na Biblioteca da escola Básica está a decorrer um concurso de BD ao longo do mês de fevereiro. Como motivação, deverão ler e selecionar um dos textos que se encontram aí expostos.
Podem optar entre  "A Lenda de Timor"; um excerto de "A Menina do Mar" ou um dos poemas que aqui vos apresento.
Concentrem-se, leiam com atenção e escolham o que mais vos tocar e vos parecer mais sugestivo e facilitador da vossa tarefa.
DEEM ASAS À VOSSA CRIATIVIDADE!

NAVIO NAUFRAGADO

Vinha de um mundo
Sonoro, nítido e denso.
E agora o mar o guarda no seu fundo
Silencioso e suspenso.

É um esqueleto branco o capitão,
Branco como as areias,
Tem duas conchas na mão
Tem algas em vez de veias
E uma medusa em vez de coração.

Em seu redor as grutas de mil cores
Tomam formas incertas quase ausentes
E a cor das águas toma a cor das flores
E os animais são mudos, transparentes.

E os corpos espalhados nas areias
Tremem à passagem das sereias,
As sereias leves dos cabelos roxos
Que têm olhos vagos e ausentes
E verdes como os olhos de videntes.

                                       Sophia de Mello Breyner Andresen  

                                          
FUNDO DO MAR

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo marinho.
Um polvo avança
No desalinho 
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
                            
                                                                            Sobre a areia o tempo poisa
                                                                            Leve como um lenço.

                                                                            Mas por mais bela que seja cada coisa
                                                                           Tem um monstro em si suspenso.

Sophia de Mello Breyner Andresen


A ORIGEM DE TIMOR

Em tempos que já lá vão, vivia na ilha Celebes um crocodilo muito velho, tão velho que não conseguia caçar peixes no rio. Certo dia, apertado pela fome, decidiu aventurar-se nas margens, em busca de algum porco distraído que lhe servisse de refeição. Andou, andou, até cair exausto e desesperado, pois não encontrara nada e perdera as poucas forças que lhe restavam. Como havia de regressar à água? Valeu-lhe um rapaz simpático e robusto que teve pena dele e o arrastou pela cauda.
Em paga pelo serviço prestado, o crocodilo ofereceu-se para o transportar às costas sempre que quisesse navegar. O rapaz aceitou e fizeram várias viagens juntos.
Isso não impediu, no entanto, que sentindo fome de novo, o crocodilo se lembrasse de comer o companheiro. Antes, porém, quis ouvir a opinião dos outros animais e todos se mostraram indignadíssimos. Devorar quem o salvara? Que ingratidão!
Envergonhado e cheio de remorsos, o crocodilo resolveu partir para longe e recomeçar a vida onde ninguém o conhecesse. Como o rapaz era o único amigo que tinha, chamou-o e disse-lhe:
«Vem comigo à procura de um disco de ouro que flutua nas ondas perto do sol nascente. Quando o encontrarmos seremos felizes».
Mais uma vez viajaram juntos, agora sulcando o mar que parecia não ter fim... a certa altura o crocodilo percebeu que não podia continuar. Deteve-se por um instante e logo o corpo se transformou numa ilha magnífica.
O rapaz viu-se homem feito de um momento para o outro e verificou encantado que trazia ao peito o disco de ouro com que sonhara o crocodilo. Percorreu então as praias, as colinas, as montanhas, concluindo que ali realizaria o seu destino. Instalou-se para ficar e deu à ilha o nome de Timor, que significa Oriente.


Ana Mª Magalhães e Isabel Alçada